quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Resgate em Alto-Mar

E no dia seguinte, ao teu almoço, recebes um papel dobrado, onde está escrito:
«Deve o senhor fulano à patrulha nº tantos por socorros prestados na estrada de tal– 27$000 réis!»
Que dirias tu, concidadão amado?
Este é o início de um dos mais belos textos de Eça de Queirós da colectânea Uma Campanha Alegre. Mas será que hoje em dia estes casos ainda acontecem?

2002: O armador da embarcação Paula e Filipa pede auxílio ao INEM pois tinha um tripulante doente a bordo. Após efectuar a triagem pelo telefone, como o INEM não tem autorização para efectuar socorros em alto mar mesmo dentro da Zona Económica Exclusiva Portuguesa, contactou a Força Aérea Portuguesa para efectuar o resgate do doente que sofria de uma apendicite aguda. A F.A.P. apresentou então a factura: 12 540 euros…

2005: O mestre da embarcação Eva Maria, localizada a cerca de 20 milhas de Viana do Castelo, pede auxílio ao INEM pois tinha um tripulante doente a bordo. Diagnosticado um Acidente Vascular Cerebral, o INEM contactou a F.A.P. para efectuar o resgate, tendo estes que mobilizar um helicóptero desde a base do Montijo, tendo o tempo total da operação demorado cerca de 4 horas. Valor da factura: 13 593 euros…

Em ambos os casos, e após a recusa dos armadores das embarcações de pagarem a despesa, o Ministério Público avançou com os casos para Tribunal. O primeiro caso foi arquivado, mas as cobranças continuaram a ser feitas. A operação de resgate só pode ser efectuada pela F.A.P., sendo que o papel do INEM é apenas de prestar assistência médica gratuita, acompanhando por isso a operação de resgate. Deus me livre, nem imagina o meu alívio. Mas cabe na cabeça de alguém que eu tivesse que pagar 13 mil euros para salvar uma vida?, perguntava mestre Adão do Eva Maria após ser informado que o Ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, tinha mandado suspender as cobranças Nem imagina o susto que apanhei. Nem num ano ganharia para pagar aquela quantia!.

Se isto fosse verdade…

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Portugal vs Inglaterra 1946 (2)

Quando em Março de 1946 um esquadrão de navios ingleses atracou em Lisboa, ainda estava fresca na memória dos adeptos do futebol o belo jogo que a equipa da RAF e a da Selecção “Militar” Portuguesa tinham proporcionado pouco tempo antes. Sendo assim, tratou-se logo de marcar novo jogo Portugal vs Inglaterra com os marinheiros da Home Fleet.

Mas se a Selecção da RAF tinha meia dúzia de jogadores de futebol nas suas fileiras, esta selecção era apenas composta por jovens marinheiros pouco peritos em jogo de bola. Mas, mais uma vez, a Selecção Nacional escolheu entre os seus melhores, chegando mesmo a fazer um estágio de três dias na Costa da Caparica, pois o total desconhecimento dos membros da tripulação adversária, levaram ao receio de envergonhar a elite de Portugal. Para além de paralizarem as competições em Portugal, a selecção era composta por Capela e Barrigana, Vasco, Cerqueira e Elói, Mateus, Grazina, José Lopes e Francisco Lopes, Jesus Correia, Araújo, Patalino, Salvador, Rogério, Júlio e Lourenço. Para árbitro foi chamado um internacional belga Charles Canuto, que não era mais do que o árbitro português Carlos Canuto. Em vésperas do jogo muitos bilhetes estavam por vender, pois talvez as pessoas já tivessem percebido a marosca…

Foi uma vergonha de 11-1, em que os jogadores ingleses, mais habituados à estiva, não souberam dar a volta ao jogo em terra, embora jogando sempre dignamente e com alegria, mesmo enquanto os golos iam entrando na sua baliza. Pelas palavras duras escritas no jornal A Bola sobre esta “exibição”, a redacção do jornal viu a sua tiragem ser suspensa durante um mês…

Se isto fosse verdade…

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Fundação Amália Rodrigues

Amália Rodrigues é um dos maiores nomes da música portuguesa, e até mundial, que encheu salas de espectáculo das Américas até à Ásia. Ultimamente o nome dela tem sido muito falado na comunicação social, mas não o é pelos melhores motivos. A Fundação Amália Rodrigues, criada após a sua morte e segundo desejo no seu testamento, tem sido o foco de discórdia…

No seu testamento, Amália deixou suas posses (excluindo os direitos de autor que ficaram com seus sobrinhos) para a criação de uma fundação que ajudasse os mais necessitados. Aprovada em Janeiro de 2000, ficou, por motivos burocráticos, sem o estatuto de utilidade pública que a isentaria de impostos. Mas a polémica maior é relativa ao facto de Amadeu Costa Aguiar, testamenteiro de Amália e gestor provisório até nomeação de uma Direcção da Fundação, ter aprovado estatutos em que o tornavam Presidente vitalício! Raul Solnado, João Braga (que até chegou a ser processado pelo Presidente da fundação) e diversas pessoas ligadas à fadista reagiram contra essa usurpação de poder. Entre os bens que estão sob gestão da Fundação encontram-se terrenos, imóveis, contas bancárias e jóias (nunca catalogadas ou avaliadas) cujo valor e paradeiro não são conclusivos...

Para além da gestão pouco clara, mesmo nomeando o seu filho para ajudá-lo na difícil tarefa, Amadeu Costa Aguiar precisa, contudo, de pagar os impostos em atraso, mesmo com a lei de utilidade pública a ter efeitos retroactivos, pois segundo o artigo 11.º-A do Estatuto dos Benefícios Fiscais, a isenção de impostos não pode ser concedida como perdão fiscal e para que tenha efeito, os valores do imposto sucessório têm mesmo de ser pagos para que depois sejam reembolsados…

Se isto fosse verdade…

Futebol - Portugal vs Inglaterra 1946 (1)

A máquina de propaganda do Estado Novo era incansável e aproveitava todas as oportunidades para fazer passar a mensagem. Em Fevereiro de 1946, após uma guerra que poupou o nosso território, uma equipa de futebol da Royal Air Force decidira fazer um jogo amigável em Portugal com a nossa Selecção Militar. Só que em campo surge a Selecção Nacional Portuguesa…

O Major Ribeiro dos Reis, glória do futebol português e que na altura era o Seleccionador, decidiu convocar “militares na reserva”, com uma equipa composta por Azevedo; Cardoso e Feliciano; Mateus, Francisco Ferreira e Serafim; Mário Coelho, Quaresma, Peyroteo, Salvador e Rogério. Até foi feito um estágio na Venda do Pinheiro, não fosse surgir algum craque entre os ingleses que fosse envergonhar os nossos jogadores. Composta por heróis da guerra e alguns futebolistas conhecidos, os ingleses defrontaram uma selecção em que, tirando Quaresma como Sargento e Manuel Marques como cabo, todos eram soldados rasos e até chegaram ao Estádio do Jamor em carro militar e devidamente fardados. E os jogadores ficaram bem satisfeitos pois, antes do jogo, foi-lhes dito em pleno Estádio defronte dos 60 000 espectadores que poderiam ficar com os equipamentos (outros tempos mais frugais) …

A Selecção Militar/Nacional acabou por empatar a um golo com a Selecção da RAF, onde pontificava um jovem Stanley Matthews que deu água pela barba a Serafim, encarregue de lhe fazer a marcação. Mas se este jogo teve uma selecção estranha (a portuguesa), no jogo seguinte em Março do mesmo ano surgiria outra selecção ainda mais estranha (nesse caso, a inglesa) …

Se isto fosse verdade…